domingo, 4 de maio de 2008

Estudantes são agredidos ao filmar cenas que denunciam maus-tratos a animais em rodeio de Magé


A estudante de jornalismo Taiane Linhares e o cinegrafista Pedro Silva foram agredidos na noite do sábado no momento em que gravavam um flagrante de maus-tratos aos animais que participavam do 2º Rodeio de Santo Aleixo, em Magé. O autor da agressão foi o próprio dono da companhia de rodeio que prestava serviços ao evento, a “W Masters”. As imagens, gravadas em uma câmera fotográfica, mostram o exato momento em que o senhor, que não quis se identificar, tenta tomar a câmera e, aos palavrões, ameaça bater no rapaz e diz que iria quebrar o aparelho. Os jovens registraram o fato na 65ª DP de Magé.


Veja o vídeo do momento exato da agressão

Esse não é o primeiro rodeio em que flagramos abusos contra animais, dizem vítimas

Segundo os estudantes, essa não é a primeira vez em que registram cenas de maus-tratos a animais em rodeios. Em 2007 os jovens fotografaram diversas cenas de abusos nesse mesmo rodeio. Nas fotos os funcionários da companhia de rodeio espancam os touros com pauladas e chutes. Além disso, uma vara é introduzida nos ânus dos animais com o intuito de forçá-los a entrar na área em que seriam preparados para a montaria. De acordo com os estudantes, as mesmas cenas foram presenciadas no rodeio desse ano. As fotos do evento de 2007 reforçaram o processo contra a organização do rodeio que tramita na Promotoria de Tutela Coletiva do Meio Ambiente do Ministério Público em Duque de Caxias.

Outro fator ressaltado pelos estudantes é a utilização do sedém, uma corda que é amarrada na área abdominal do touro, perto do saco escrotal, e é apertada com força pelos funcionários da companhia de rodeio segundos antes de o animal ser solto na arena. O incômodo provocado pela corda obriga o animal a saltar até que consiga afrouxá-la, proporcionando assim o “espetáculo”.

De acordo com os estudantes, a atitude da organização do rodeio, além de ser uma retaliação às denúncias do ano de 2007, teve em vista suprimir o direito à liberdade de imprensa. “Não estávamos fazendo nada de errado, havia outras pessoas fotografando e a entrada na área onde ficava o curral não era proibida. Eles pretendiam nos intimidar pelo poder da violência, assim como fazem com os animais. Se o fato de nós estarmos filmando incomodou tanto a organização do evento, quer dizer que eles têm a convicção de que estavam fazendo algo errado”, ressalta a estudante de jornalismo Taiane Linhares.

Embora já tenha prestado depoimento junto ao Ministério Público, estando ciente da brutalidade cometida no ano de 2007, o organizador do rodeio, Walter Arruda, voltou a realizar tal evento. O rodeio é regulamentado por lei no estado do Rio de Janeiro, embora seja proibido em alguns municípios do país como Rio de Janeiro, São Paulo, Guarulhos, Jundiaí e Sorocaba. Porém, muitos protetores dos direitos dos animais defendem que é impossível realizar tal evento sem submeter os animais a maus-tratos, já que os animais são visivelmente dóceis e assustados, além de não se submeterem facilmente às vontades dos homens. Já a lei de crimes ambientais (lei nº 9.605, artigo 32) pune aqueles que “praticarem ato de abuso, maus-tratos, ferirem ou mutilarem animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” com até um ano de prisão.

Os jovens que denunciaram o crime dizem ser adeptos do veganismo que, segundo eles, seria um estilo de vida que se posiciona contra a exploração de qualquer espécie animal pelos seres humanos, abolindo, assim, o consumo de qualquer produto de origem animal (o que inclui carne, ovos e leite, por exemplo), que tenha sido testado em animais ou que seja produzido por empresas que patrocinam festas como rodeios. Apesar de terem a convicção do risco que podem estar correndo ao efetuar tais denúncias, os estudantes não temem os organizadores de rodeios. “A gente sabe que alguém que comete abusos contra a vida de animais não-humanos pode facilmente fazer algo contra os humanos que ferirem seus interesses, já que demonstram apenas saber agir na base da ignorância. Mas mesmo assim continuamos na luta pelo fim da exploração animal, e agora ainda mais convictos de que estamos no caminho certo. Infelizmente somos a única voz desses seres que nada podem fazer para se defender”, explicou Pedro Silva.


Outros ativistas já foram censurados e agredidos por protestarem contra os rodeios

A entidade que promove a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, “Os Independentes”, ganhou uma liminar com pedido de tutela antecipatória contra o PEA (Projeto Esperança Animal). O site do PEA ( http://www.pea.org.br/ ) exibia imagens, vídeos e informações sobre os maus tratos existentes nos rodeios. O juiz substituto da 1ª Vara Cível da Comarca de Barretos, Maurício José Nogueira, considerou “abusivo” e prejudicial às entidades promotoras de rodeios a veiculação de tal conteúdo pelo site. O presidente de “Os Independentes”, Marcos Abud, em matéria no site oficial da entidade, declara: “Temos que inibir essas entidades e pessoas que desconhecem totalmente nossos procedimentos de bons tratos aos animais nos rodeios e transmitem informações erradas que denigrem a imagem do esporte”. Foi estipulada uma multa de 5 mil reais por dia, caso o PEA descumpra a ação. O site acatou a decisão judicial e no momento não mais exibe tais informações sobre rodeios.

A cantora Rita Lee também está sendo processada por “Os Independentes”. Segundo os promotores de rodeios, Rita Lee teria os chamado de “bandidos”, em entrevista ao Fantástico, no mês de outubro de 2006. O cantor Zezé di Camargo, há 3 anos, criticou o posicionamento de Rita Lee em relação aos rodeios, "Não advogo em causa própria. Não sei se ela sabe quantos empregos geram. É injusto que sejam ameaçados só pela mediocridade de algumas cabeças, que levantam uma bandeira demagoga, não baseada em laudo técnico, mas em opinião própria(...). A comparação é esdrúxula, mas pergunto quem sofre mais: um animal pulando por oito segundos nesses eventos, o que fica na carroça o dia inteiro sendo chicoteado ou um boi num matadouro? Ela já foi ao matadouro ver como um boi morre?". A cantora Rita Lee, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (26/09/2005), rebate as críticas do companheiro de profissão: “Não vou fazer da defesa dos animais nenhuma plataforma para promover minha figura como artista. Se Zezé defende os rodeios, pior pra ele. Eu odeio rodeio! Tenho vasto material comprovando os maus-tratos que acontecem nos bastidores desses eventos. Se Zezé conhece os abusos e acha normal, sinto muito pela sua ignorância espiritual. Se desconhece, está na hora de conhecer.”

Em abril de 2007 ativistas da cidade de Sumaré, interior de São Paulo, foram agredidos por homens a paisana enquanto faziam manifestação no Rodeo Sumaré Festival. O grupo, que dias antes havia pichado alguns pontos da cidade com frases de repúdio ao rodeio, pretendia fazer uma manifestação pacífica com faixas e panfletagem. Os jovens – aproximadamente 15 ativistas, alguns menores de 18 anos – dirigiram-se à área da bilheteria do evento, onde faziam um “apitaço” e conscientizavam as pessoas que por lá passavam. Incomodados com a situação, os organizadores do rodeio deram ordens aos seguranças para que advertissem o grupo, “eles pediram para que continuássemos a manifestação a uma distância de 50 metros, mas não obedecemos. Não há nenhuma lei que estipule isso”, argumenta Felipe de Araújo, o Xarope, um dos ativistas agredidos.

Duas horas depois, quando ainda estavam no local da manifestação, cerca de 15 homens desceram de uma Pick up e espancaram com socos e ponta pés os jovens. Na confusão, um dos rapazes reconheceu entre os agressores o segurança que havia os repreendido. Os homens perseguiram os jovens pelas ruas nos arredores do local onde se realizava o rodeio. Uma manifestante teve o nariz quebrado pelos “capangas”. Um dos organizadores do protesto, Felipe (Xarope), ficou indignado com a atitude dos policiais naquele momento crítico, “fomos com a menina ensangüentada pedir ajuda aos policiais. O Sargento Rosa, do 15º DP de Sumaré, negou-se a prestar socorro alegando que ela estava na manifestação. Ele de forma alguma poderia ter feito isso, mesmo porque estávamos em nosso direito de protestar”, questiona Xarope.

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